3.10.12

Decoração insólita


O termo grotesco deriva da palavra italiana grottesco (de gruta, ou cova), surgindo como um estilo artístico inspirado nas decorações da Roma Antiga, descobertas em ruínas escavadas durante o Renascimento. Esses monumentos subterrâneos eram conhecidos por “grottes”, e foram encontrados em 1480, num local que hoje é conhecido como Oppius. Essas escavações revelaram os restos do palácio Domus Aurea, erguido por Nero após o grande incêndio que destruíra parte de Roma no ano de 64. O palácio possuía uma espécie de pintura ornamental totalmente incomum, principalmente em relação à imagem que se tinha do estilo classicista de arte romana. Esse estilo recém descoberto era baseado em formas, como figuras delirantes, máscaras e animais. O ornamento grotesco, geralmente, se caracteriza pela criação de universos fantasiosos, cheios de seres humanos e não-humanos, fundidos e bizarros.

As visitas às grutas se tornaram uma verdadeira viagem insólita, em que uma nova noção de arte se fazia a partir do estranho, do irreal e do assustador. Diversos pintores fizeram excursões regulares às ruínas da Domuns Aurea, entre eles Giovanni da Udine, Pinturicchio e Rafael Sanzio, principalmente para conhecerem os ornamentos criados pelo pintor Fâmulo (também conhecido como Fabullus, ou Fábulo).

Um dos primeiros exemplares do ornamento grotesco é o friso da Anunciação, feito por Carlo Crivelli, em 1486, que chama atenção pela deformação de elementos naturais. As pinturas grotescas feitas por Luca Signorelli, entre 1499 e 1504, para a Catedral de Orvieto, mostram uma confusão de elementos e animais estranhos, usados para representar a Divina Comédia, de Allighieri. Entre os mais conhecido e influentes obras grotescas, encontram-se as obras de Rafael Sanzio, para o forro e pilares das loggie do Vaticano, de 1515, formados por arabescos e linhas ondulados e verticais, com animais e vegetais entrelaçados.

Grotescos, século XVI. Galleria degli Uffizi

O grotesco como um estilo marginal, até que a grande difusão do estilo que se deu já no fim do século XVI, quando já tomava grande parte arquitetura italiana. Muitos outros artistas renomados passaram a realizar suas obras com base no estilo grotesco, como Gaudenzio Ferrari, Signorelli, Filippino Lippi, Andrea di Cosimo, Giuliano da Sangallo e até mesmo Michelangello. Logo após essa explosão no país, o estilo começou a entrar em outros países da Europa. Rapidamente a noção de grotesco perde o sentido técnico, especificamente, como um tipo de arte romana e um estilo renascentista, transformando-se em um adjetivo para indicar aquilo que é bizarro, fantástico e extravagante.

Posteriormente, o movimento neoclássico, ao resignar a linha curva e retorcida dos estilos barroco, acaba por rejeitar, de modo geral, o estilo grotesco, que é considerado excessivamente despropositado, colocando-o novamente na marginalidade. Acaba sendo muito valorizado pelos românticos, para os quais a arte deveria representar tanto o que é belo e admirável, quanto o que é feio e deformado. Esses artistas transformam o grotesco numa espécie de categoria estética e literária, para fazer referência a um tipo de descrição ou de tratamento deformador da realidade, que pode ter como objetivo provocar gargalhadas, com uma intencionalidade satírica.

Fonte. Gabriella Porto, Grotesco, InfoEscola, 3.10.2012
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...